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Obstáculos Epistemológicos Segundo Bachelard

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Os obstáculos epistemológicos são entraves para a construção do conhecimento científico.
Os obstáculos epistemológicos são entraves para a construção do conhecimento científico

Gaston Bachelard foi um filósofo e poeta francês que estudou principalmente questões referentes à filosofia da ciência. No que diz respeito principalmente às ciências exatas, ele diz que foi e é necessário superar ou haver uma transposição de uma série de obstáculos epistemológicos, isto é, entraves à aprendizagem, para que a construção do espírito científico se efetive.

São obstáculos que os professores devem estar atentos, para que não estejam presentes em seu modo de ensinar, no ambiente da sala de aula e nos recursos didáticos usados, como por exemplo, o livro didático. O professor também precisa estar ciente do que cada um trata, pois somente assim poderá identificá-los e superá-los, ou, também, poderá ajudar os seus alunos a superá-los, caso os obstáculos estejam presentes neles próprios.

Desse modo, alguns dos principais obstáculos epistemológicos, enumerados segundo Bachelard, que não só causam a estagnação da construção do pensamento científico, mas também contribuem para o seu retrocesso, são apresentados a seguir:

1- A Experiência Primeira:

A pessoa fica mais apegada à beleza do experimento do que à sua explicação científica. Nesse obstáculo, dá-se preferência às imagens e não às ideias. Principalmente no conteúdo de Química, quando o professor busca fazer um experimento, ele deve tomar o cuidado para que este seja apenas uma ferramenta auxiliar ao conhecimento ensinado, por assim dizer, no “quadro-negro”. E não deixar que esse experimento seja só uma sucessão de resultados visualmente interessantes.

2- O Conhecimento Geral:

A ausência da explicação, no obstáculo citado anteriormente, faz com que haja uma generalização. Essa ocorre quando uma lei fica tão clara, completa e fechada, que dificulta o interesse pelo seu estudo mais aprofundado e pelo seu questionamento. Isso significa que leva à imobilidade do pensamento. Todas as outras explicações vão derivar desse primeiro conhecimento geral; as mesmas respostas são dadas a todas as questões. São, portanto, generalizações pré-científicas, que podem tornar-se um conhecimento extremamente vago.

3- Obstáculo Verbal:

Nesse obstáculo há uma tendência de se associar uma palavra concreta a uma abstrata. Segundo Andrade et al (2002, p. 5) “uma só palavra, funcionando como uma imagem, pode ocupar o lugar de uma explicação.” Ou seja, muitas vezes o professor acha que para facilitar a compreensão do conteúdo a ser estudado, por parte dos alunos, ele deve usar algumas analogias, metáforas, entre outros. No entanto, o mau uso destes recursos pode, muitas vezes, na realidade, dificultar e criar obstáculos para o aprendizado.

Isso não significa que Bachelard é contrário ao uso de metáforas e analogias no ensino, porém, estas devem ser usadas depois da teoria e não antes, pois devem ser um auxílio e não o foco principal.

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4- Conhecimento Unitário e Pragmático:

Trata-se da crença numa unidade harmônica do mundo; assim, diversas atividades naturais se tornam manifestações de uma só natureza.

Sobre o que é o conhecimento pragmático para Bachelard, Andrade et al(2002) diz:

“traduz-se na procura do caráter utilitário de um fenômeno como princípio de explicação. Bachelard afirma que muitas generalizações exageradas provêm de uma indução pragmática ou utilitária. Em pedagogia, constata-se que quando os alunos se referem a aspectos utilitários dos conceitos, como por exemplo: “a fotossíntese é a função que purifica o ar que nós respiramos”, parece que isto é suficiente para definir os conceitos” (ANDRADE et al, 2002, p. 5).

5- Substancialismo:

Esse obstáculo “pode ser em parte oriundo do materialismo promovido pelo uso de imagens ou da atribuição de qualidades” (OLIVEIRA e GOMES, 2007, P. 98). Por exemplo, na Lei de Boyle, atribuíam-se à eletricidade algumas qualidades como viscosidade, tenacidade e untuosidade; como se ela fosse uma cola, um espírito material.

6- Realismo:

Para o realista, a substância de um objeto é aceita como um bem pessoal. Segundo Bachelard, todo realista é um avarento e todo avarento é um realista.

7- Animismo:

O uso de atributos humanos no ensino de ciências pode ser considerado um entrave para a aprendizagem. Isso significa animar, atribuir vida e características humanas às substâncias para explicar fenômenos.

A tendência de atribuir a coisas inanimadas características humanas constitui o obstáculo epistemológico animista, pois pode focar mais na imagem do que no conceito científico em si.
A tendência de atribuir a coisas inanimadas características humanas constitui o obstáculo epistemológico animista, pois pode focar mais na imagem do que no conceito científico em si

Veja um exemplo desse obstáculo, na fala de um professor de química, ao ensinar o tema empuxo: pensem no líquido como um ser meio antissocial. Ele não gosta de se misturar com ninguém. Quando você vai jogar alguma coisa lá dentro, ele não aceita, por isso expulsa o objeto/matéria (FINZI, 2008).

Segundo FINZI (2008, p. 2), nesse caso há um entrave para o pensamento científico, pois o líquido está sendo comparado a um homem com qualidades ruins (ser “meio antissocial”). Dessa forma, ao invés de o aluno entender a força que atua nos líquidos, ele irá focalizar sua atenção no fato de que pessoas não se relacionam bem com outras.


Por Jennifer Fogaça
Graduada em Química
Equipe Brasil Escola