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Uma sátira da Guerra do Paraguai

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As críticas à Guerra do Paraguai demonstram as manifestações de oposição contra o governo imperial.
As críticas à Guerra do Paraguai demonstram as manifestações de oposição contra o governo imperial.

Ao observamos determinados elementos do passado, chegamos até os mesmos em uma posição de superioridade. Por meio de depoimentos, indícios e mais reflexões, temos a capacidade de estabelecer uma ampla crítica de uma época. Dessa forma, acabamos nos colocando em uma posição privilegiada, na posição de quem agora pode pensar sobre as opções e caminhos que os homens da época que estudamos não tomaram.

Essa tomada de perspectiva não é exclusiva daqueles que apreciam o estudo da História. Alguns alunos também se tomam por essa sensação de poder ao apreenderem as nuances que envolviam determinado fato. Não raro, essa visão se manifesta em comentários bastante simplistas. Em algumas situações eles dizem não compreender como as pessoas “aceitaram” uma determinada ocorrência. Quando mais exaltados, chegam a duvidar da inteligência daqueles que viveram décadas atrás.

Em um primeiro momento, o professor interpreta esse tipo de reação como uma clara manifestação da imaturidade de seus alunos. Contudo, pode caber a ele, na qualidade de educador, expor um quadro mais rico e detalhado que supere essa visão contaminada por tantos preconceitos. Nesse sentido, conforme já salientado tantas vezes, basta o professor realizar uma simples preparação de documentos que permitem o contato com essa faceta do passado nem sempre exposta nos livros didáticos.

Um exemplo eficiente para melhor explicitarmos essa situação pode ocorrer durante os estudos sobre a Guerra do Paraguai. Na época, o prolongamento do conflito acabou movimentando uma série de críticas contra o governo imperial. Em geral, tais críticos questionavam as vantagens de se investir em conflitos onde tantos recursos financeiros eram sistematicamente consumidos.

Além das perdas econômicas inerentes, a deflagração daquele que seria o maior conflito militar de nossa História também incomodava pela convocação obrigatória da população para lutar nas frentes de batalha. Mediante tal situação, a revista Semana Ilustrada publicou uma interessante sátira em que várias questões são exploradas a partir do advento da convocação para a luta.

No texto, publicado em 17 de fevereiro de 1867, temos em “Consultas” o instigante diálogo entre Massante, um desafortunado recém-chamado para lutar contra o Paraguai, e Doutor, que ouve os anseios de seu paciente. Segue o texto:


Massante – Sr. Doutor, venho dizer-lhe adeus...
Doutor (à parte) – Estimo muito.
Massante – E pedir-lhe um favor.
Doutor (à parte) – Sinto muito.
Massante – Embarco para o Rio da Prata; poderá V. S. dar-me um remédio contra o enjoo?
Doutor – Infalível.
Massante – Qual, meu Doutor?
Doutor – Não embarcar.
Massante – Infalível, com efeito; mas aqui não ganho bastante, e não terei que comer.
Doutor – Isso é outra doença. Quer um remédio para não morrer de fome?
Massante – Justamente.
Doutor – Pois bem: coma com apetite.
Massante – É o que farei se puder. Mas as indigestões...
Doutor – Terceira doença. O senhor não quer morrer nem de enjoo, nem de fome, nem de indigestão...
Massante – Exatamente.
Doutor – Pois suicide-se.

Por meio desse breve texto, o professor pode demonstrar como os meios de comunicação utilizaram de humor para debater os problemas que existiam por detrás do conflito militar. Mediante as dificuldades econômicas da época, a entrada no Exército poderia significar uma chance de ascensão social. Entretanto, a hesitação do personagem criado e o pragmatismo do doutor são características que permitem a exploração dos problemas vividos cotidianamente.

Por fim, caso queira ainda empreender uma atividade multidisciplinar, o professor de História e de Teatro podem organizar com a turma a encenação desse pequeno texto para o restante da escola. Dessa forma, além de perceberem a presença e a vivacidade das ideias de uma época, os alunos podem integrar Arte e História em uma divertida atividade.


Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

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