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Sugestão de aula sobre a economia açucareira no Brasil

Por meio desta sugestão de aula sobre a economia açucareira no Brasil, o professor pode encontrar caminhos para trabalhar esse tema, às vezes árido, em sala de aula.
A cana-de-açúcar, durante muito tempo, foi o principal motor da economia brasileira
A cana-de-açúcar, durante muito tempo, foi o principal motor da economia brasileira
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Quando ensinamos aos alunos de Ensino Médio os conteúdos de História do Brasil, há dificuldades de toda ordem. Mas um tipo de assunto suscita dificuldades maiores: a história econômica. Os vários momentos de desenvolvimento econômico do Brasil possuem uma tradição historiográfica exclusiva, que já é chamada de História Econômica do Brasil e tem como um dos pioneiros Caio Prado Júnior. Entretanto, sabemos que não basta coligir interpretações e pesquisas sobre tal tradição para ter bons elementos para uma aula. É necessário algo mais para prender a atenção do aluno.

Aqui oferecemos uma sugestão de aula sobre a economia açucareira no Brasil, pensada para turmas de Ensino Médio. Como nessa fase do ensino os alunos começam a ter também aulas de Literatura Brasileira, efetuando leituras mais complexas, como a dos poemas modernos, o professor de História pode fazer disso uma ótima ferramenta.

No caso específico da aula sobre economia açucareira, o professor pode, após ministrar, em linhas gerais, o conteúdo sobre a vida nos engenhos, a formação da sociedade patriarcal, a aplicação do trabalho escravo, entre outros, valer-se de textos literários que exemplifiquem esses assuntos. Um exemplo possível é a obra de José Lins do Rego. Esse autor possui romances, como Menino de Engenho, Usina e Fogo Morto, que são excelentes opções para uma aula sobre a economia açucareira, pois dizem respeito exatamente à vida no seio da sociedade patriarcal que se formou no estado do Pernambuco.

O professor de História pode associar-se com o professor de Literatura e oferecer uma aula conjunta para os alunos (que poderiam fazer uma leitura prévia da obra indica, na íntegra) ou, então, selecionar trechos que achasse conveniente e propor questões que os relacionassem com o conteúdo estudado.

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Outra opção, talvez mais viável, seja escolher algum poema de algum poeta que tenha abordado esse tema, tal como o pernambucano João Cabral de Melo Neto. João Cabral é o poeta que mais escreveu sobre o universo do Nordeste Brasileiro, sobretudo evidenciando problemas como a seca e a desigualdade social. O professor de história pode escolher um ou vários poemas para abordar em sala de aula, em contraste com o conteúdo aplicado. Um dos mais interessantes é “O mar e o canavial”, que pode ser encarado como metonímia de muitas coisas.

A imagem do canavial pode representar toda economia e a vida social que se formaram em torno dos engenhos de açúcar, além de ter algo a “ensinar para o mar”. Esse “mar” seria uma representação tanto de quem vive no litoral quanto da própria forma de se encarar a vida e o cotidiano a partir do ponto de vista que se tem, isto é, no qual estamos envolvidos. O poema segue abaixo como exemplo para essa proposta de ensino.

O que o mar sim ensina ao canavial:
o avançar em linha rasteira da onda;
o espraiar-se minucioso, de líquido,
alagando cova a cova onde se alonga.
O que o canavial sim ensina ao mar:
a elocução horizontal do seu verso;
a geórgica de cordel, ininterrupta,
narrada em voz e silêncio paralelos.

O que o mar não ensina ao canavial:
a veemência passional da preamar;
a mão-de-pilão das ondas na areia
moída e miúda, pilada do que pilar.
O que o canavial não ensina ao mar:
o desmedido do derramar-se da cana;
o comedimento do latifúndio do mar,
que menos lastradamente se derrama.

(João Cabral de Melo Neto, “O Canavial e o Mar”)


Por Me. Cláudio Fernandes