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Revolta da Chibata e o Mestre-sala dos Mares

Nesta proposta de aula, o professor poderá debater com os alunos temas como racismo e repressão, tendo por base a música Mestre-Sala dos Mares, referente à Revolta da Chibata.
João Cândido, o homem alto e sorridente ao centro, principal líder da Revolta da Chibata. Foto de O Malho, de 03/12/1910
João Cândido, o homem alto e sorridente ao centro, principal líder da Revolta da Chibata. Foto de O Malho, de 03/12/1910
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A música Mestre-Sala dos Mares, de Aldir Blanc e João Bosco, é um interessante ponto de partida para se discutir em sala de aula a repressão contra os movimentos populares durante a República Velha. Tendo como tema a ação de João Cândido durante a Revolta da Chibata, a música busca manter viva na memória popular a ação dos marinheiros contra o racismo, os castigos físicos e as péssimas condições de trabalho na marinha brasileira.

Um primeiro passo a ser dado é apresentar aos alunos a música para que eles possam entrar em contato com a letra e a melodia. Peça que os alunos apontem na letra o que eles conseguem identificar sobre esse fato histórico. Depois faça um glossário com os alunos, indicando as palavras cujo significado é desconhecido por eles.

Posteriormente, divida a turma em quatro grupos para realizar uma pesquisa no laboratório de informática da escola. Cada grupo ficará responsável pelo levantamento de informações referentes aos seguintes assuntos:

  • a forma de recrutamento dos marujos pela marinha no final do século XIX e início do XX. Muitos dos marujos eram recrutados compulsoriamente, sendo a maioria descendente de escravos, ficando sob as ordens dos oficiais brancos. É possível, neste ponto, discutir sobre o racismo que ainda permanecia nas Forças Armadas brasileiras, mesmo após o fim da escravidão,
  • uma breve biografia sobre a vida de João Cândido, buscando inseri-lo no contexto social da época;
  • os fatos da Revolta da Chibata, como a luta por melhores condições de trabalho e contra os castigos físicos, que haviam sido extintos da legislação brasileira, permanecendo apenas na Marinha;
  • as tentativas de manter viva a memória dessa luta e as ações de repressão frente a isso. Pode ser citada a recusa da Marinha em aceitar a colocação de uma estátua de João Cândido na Praça XV de Novembro, no Rio de Janeiro, a recusa no pagamento de uma pensão aos familiares do almirante negro e a própria censura imposta à música de João Bosco e Aldir Blanc pelo regime militar de 1964-1985, com a alteração de vários termos.

Como avaliação desta atividade, o professor deverá pedir a elaboração de um texto com o resultado da pesquisa e uma apresentação oral desse mesmo resultado por cada um dos grupos, para que todos da turma possam ter acesso às informações. Durante este momento da atividade, o professor poderá estimular um debate, direcionando as análises para a questão do racismo, da repressão contra os movimentos populares, a atuação dos governos da República Velha nesses casos e a busca por manter viva a memória desses fatos da história brasileira.

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Abaixo segue a letra da música Mestre-Sala dos Mares.

O Mestre-sala dos Mares.

João Bosco/Aldir Blanc

Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu.
Conhecido como o navegante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala.
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas.

Rubras cascatas
Jorravam das costas dos santos entre cantos e chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão
Que, a exemplo do feiticeiro, gritava então:

Glória aos piratas
Às mulatas, às sereias.

Glória à farofa
à cachaça, às baleias.

Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história não esquecemos jamais.

Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais.

Mas salve.
Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais.

Mas faz muito tempo.

 

Por Tales Pinto
Graduado em História