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O feminismo, a máquina de lavar e a Idade Média

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A visão histórica de uma instituição pode se transformar ao longo do tempo?

A compreensão do passado, seja dentro ou fora da sala de aula, deve se mostrar como um rico exercício pelo qual o cotidiano se torna ponto de partida para outras questões que contemplam o passado. Há pouco tempo, o Vaticano publicou um artigo que defendia a ideia de que a máquina de lavar roupas teve uma contribuição significativa para que as mulheres passassem a elaborar as primeiras situações e movimentos em prol da emancipação feminina.

Curiosamente, o artigo intitulado “A máquina de lavar e a liberação das mulheres – ponha detergente, feche a tampa e relaxe” defende a simples perspectiva de que o tempo livre concedido pelas inovações tecnológicas trazidas com a revolução industrial pôde abrir caminho para novos hábitos para a mulher. De fato, a diminuição do tempo gasto com os afazeres domésticos pode ser visto como importante conquista que permitiu que a tradicional dona-de-casa pudesse pensar e discutir seu papel social desempenhado.

No entanto, se o texto não teve conteúdo ofensivo e nem mesmo renegou as conquistas das mulheres, por que os meios de comunicação tiveram o interesse de polemizar tal hipótese? Lançando essa questão para os alunos, o professor pode levantar um instigante debate sobre a relação dada entre a Igreja Católica e a mulher ao longo da História.

Inicialmente, é de suma importância esclarecer que a discussão não visa acusar ou defender um dos lados da questão, mas contemplar como essa relação acontecia e como ela ainda reverbera na atualidade. Para tanto, o professor pode fazer uma breve recuperação sobre os séculos inicias que marcam a história desta instituição religiosa que se expandiu ao longo das idades antiga e medieval.

Durante a Idade Média, a Igreja representou a mulher como um sujeito aberto aos vícios e dada à prática pecaminosa. Tal visão negativista buscava legitimação do relato bíblico de Gênesis, onde Eva era vista como a responsável pela consumação do “Pecado Original”. Com isso, a mulher poderia ser vista como uma espécie de “aliada do demônio” que poderia desvirtuar o verdadeiro cristão de seus valores.

A demonização da mulher só foi amenizada com a divulgação de duas outras representações que trouxeram outra concepção à figura feminina. A primeira delas está ligada à Virgem Maria, que a partir de seu culto estabeleceu a maternidade e a virgindade como vias pelas quais a mulher poderia recuperar a sua condição espiritual e moral inferior. A outra esteve associada à Maria Madalena, a prostituta que se redime de seus pecados e passa a levar uma vida dedicada à religiosidade.

Dessa forma, a vida inteiramente dedicada à família ou a Igreja seriam as possibilidades em que a mulher poderia galgar a sua própria salvação. De fato, tal perspectiva se manteve manifesta ao longo dos vários séculos que marcam a história da Igreja Católica. Nesse conjunto, até mesmo o século XX esteve marcado por manifestações diversas onde os clérigos se colocavam contrários à ampliação do papel feminino.

No entanto, seria possível dizer que o artigo, publicado em março de 2009, conservaria essa mesma perspectiva medieval ao dizer que a máquina de lavar foi importante na emancipação feminina? Fechando a aula com a leitura do artigo do Vaticano, os alunos poderão empreender um debate discutindo essa questão em contraposição aos interesses por de trás das matérias que noticiaram a existência do texto em questão.


Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

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