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Interdisciplinaridade:Obstáculos Epistemológicos e Motivações para sua Prática

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“assim como a especificidade de cada uma das disciplinas da área deve ser preservada, também o diálogo interdisciplinar, transdisciplinar e intercomplementar deve ser assegurado no espaço e no tempo escolar por meio da nova organização curricular” (BRASIL, 2008, p. 102).
“assim como a especificidade de cada uma das disciplinas da área deve ser preservada, também o diálogo interdisciplinar, transdisciplinar e intercomplementar deve ser assegurado no espaço e no tempo escolar por meio da nova organização curricular” (BRASIL, 2008, p. 102).

De acordo com Zimmermann e Carlos (2005) o termo interdisciplinaridade teve o seu início em meados de 1960, na Europa, e somente veio para o Brasil em 1976, quando Hilton Japiassu escreveu o livro intitulado Interdisciplinaridade e Patologia do Saber (1976). Neste livro, Japiassu revela que “o domínio do interdisciplinar é muito vasto e complexo” (p.39).

Um dos fatores apontados por Japiassu (1976) como obstáculo para que a prática da interdisciplinaridade seja estabelecida com rigor é o fato de existir entre vários especialistas persistentes ignorâncias recíprocas e por vezes sistemáticas.

De fato, este termo “interdisciplinaridade” vem sendo muito utilizado pelos profissionais da educação, entretanto, não se tem ao certo uma definição que possa orientar os professores a praticá-la. Zimmermann e Carlos (2005) afirmam que este termo “ainda se revela multifacetado e polissêmico” (p.1), gerando dificuldades no seu entendimento e, consequentemente, na sua aplicação em sala de aula.

Este assunto tem sido discutido sob enfoques diferentes por vários autores. Em relação à interdisciplinaridade, Japiassu diz o seguinte:

Podemos dizer que nos reconhecemos diante de um empreendimento interdisciplinar todas às vezes em que ele conseguir incorporar os resultados de várias especialidades, que tomar de empréstimo à outras disciplinas certos instrumentos e técnicas metodológicos, fazendo uso dos esquemas conceituais e das análises que se encontram nos diversos ramos do saber, a fim de fazê-los integrarem e convergirem, depois de terem sido comparados e julgados (JAPIASSU, 1976, p.75).

Fazenda procura compreender a interdisciplinaridade por outro ponto de vista, “a partir da práxis do professor, da ação coletiva num projeto em parceria.” (ZIMMERMMANN e CARLOS, 2005, p.2).

Imprimindo um novo rumo ao conceito de interdisciplinaridade, Jantsch e Bianchetti (1995) se opõem ao modo a-histórico e baseado na filosofia do sujeito, até então abordado. Eles concordam que não é simplesmente um trabalho em equipe ou uma parceria que se constitui um trabalho interdisciplinar.

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A interdisciplinaridade também ganhou força com os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM). Nestes parâmetros a prática do professor deve ter como eixos principais de estruturação a interdisciplinaridade, juntamente com a contextualização.

É importante salientar que apesar de ter sido bem recebido pelos profissionais da educação, como já mencionado, a interdisciplinaridade não é bem compreendida pelos que usam este termo e até tentam reproduzi-lo em sua prática. Zimmermann e Carlos (2005) salientam que “os PCNs não definem o termo e também não trazem orientação clara de como praticá-la em sala de aula”. (p.1)  

Outro aporte para a interdisciplinaridade aparece nas Orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais, Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias (PCN+), onde existem orientações um pouco mais claras de como os professores podem desenvolver trabalhos interdisciplinares. Este documento recomenda que assim como a especificidade de cada uma das disciplinas da área deve ser preservada, também o diálogo interdisciplinar deve ser assegurado no espaço e no tempo escolar. Isso pode levar a superação da fragmentação e da sequência linear com que são abordados os conteúdos escolares (BRASIL, 1999).

Assim, apesar de ainda não ter sido possível formalizar um conceito capaz de unir epistemólogos, filósofos e educadores em torno de um consenso em relação à interdisciplinaridade (ALVES, BRASILEIRO e BRITO, 2004), a tentativa da prática desta torna-se necessária, pois vivemos “num mundo complexo onde o conhecimento especificamente disciplinar começa a revelar-se insuficiente para o trato de problemas tanto de ordem social, quanto natural”(ZIMMERMANN e CARLOS, 2005, p.1).

Pierson e Neves (2001, p.2) mostram que a área de educação em geral, bem como a de educação em ciências têm sentido a necessidade de reformular constantemente seus pressupostos, redefinindo o como e o porquê ensinar ciências, devido às transformações ocorridas na sociedade nas últimas décadas. Desse modo, a interdisciplinaridade tem um solo fértil para desenvolver, pois o professor deve ser um profissional capaz de enfrentar desafios mais urgentes, levando-se em conta que, conforme estes autores relatam, temos “presenciado problemas complexos gerados pelo desenvolvimento das sociedades, difíceis de serem resolvidos por especialistas de forma isolada”.

O mundo multíplice que nos cerca não pode ser explicado a partir de uma única visão de uma área do conhecimento, mas de uma visão multifacetada, construída conjuntamente pelas visões das diversas áreas do conhecimento.

Por Jennifer Fogaça.
Graduada em Química.
Equipe Brasil Escola.