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Charge e História em sala de aula

A relação entre Charge e História é um tema para estimular nos alunos o interesse na pesquisa histórica.
Ilustração de Honoré Daumier – chargista francês internado em hospício por ordens do rei Luís Felipe devido a uma charge que o ridicularizava.*
Ilustração de Honoré Daumier – chargista francês internado em hospício por ordens do rei Luís Felipe devido a uma charge que o ridicularizava.*
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Uma das formas possíveis de se reconhecer a crítica política e social em alguns períodos históricos é através das artes produzidas pelas pessoas que viveram nestes períodos. As artes plásticas, a música e a literatura são exemplos comuns de como se pode apreender o espírito de uma época. Há também outra forma de perceber estes aspectos sociais: através das charges, caricaturas e cartuns. Utilizadas principalmente como arma de ataque político e de crítica aos costumes, elas podem ser um bom instrumento para se trabalhar em sala de aula a pesquisa histórica.

Em duas aulas o professor pode fazer um trabalho estimulante e interdisciplinar com seus alunos: estimulante, já que o humor e a expressão gráfica são elementos que podem despertar o interesse do aluno nas propostas de trabalho pedagógico; interdisciplinar por ser uma linguagem artística, o que possibilita um trabalho em conjunto com a matéria de artes e de língua portuguesa. Veja, a seguir, uma indicação possível de como trabalhar a pesquisa histórica com a utilização de charges e caricaturas.

Na primeira aula, introdutória, o professor apresentará um apanhado geral sobre a definição de charges e caricaturas e sua utilização ao longo do tempo. Com a utilização de um retroprojetor, ou mesmo de um data show, o professor poderá mostrar a charge como um retrato distorcido da realidade que o autor pretende expor com sua produção artística. Apontando os cenários, as personagens e suas vestimentas, é possível discorrer sobre o uso dos traços na criação de situações humorísticas que objetivam criticar algum aspecto da vida social, fazendo a ligação entre a própria crítica e o período e o contexto histórico em que ela foi produzida. A charge é uma produção ligada ao tempo em que foi produzida, já que busca criar no leitor uma compreensão imediata do conteúdo exposto.

Esta definição temporal pode ser contrastada com o cartum, comum no Brasil contemporâneo, que tem uma perspectiva mais universal e não tanto ligada a um período histórico específico, utilizando elementos que o tornam universal, atemporal e perene, por se valer de personagens universais como bruxas, caçadores, sogras etc., ou por temas como o sexo, a religião, tecnologia, entre outros.

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Ao fim dessa apresentação, o professor dividirá a turma em grupos responsáveis pela pesquisa das origens históricas e características das charges, caricaturas e cartuns. Uma divisão de trabalho poder ser feita da seguinte forma:

  • Dois grupos de alunos pesquisam sobre a origem das três formas de expressão artística: um responsável pela origem mundial, cuja indicação pode ser encontrada no nome de Giovanni Bernini, no século XVI e XVII, e sobre os cartuns com a revista inglesa Punch, por volta de 1841. O outro grupo estará responsável pelas origens brasileiras, encontrando em nomes como os de Manuel de Araújo de Porto-Alegre (1806-1879), Ângelo Agostini e Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905); Voltolino e Belmonte, J. Carlos (1884-1950) e, por fim, Ziraldo (1964).
  • Outro grupo pode ficar responsável pela apresentação da relação entre as caricaturas e charges e a liberdade de expressão, apontando os limites impostos a este gênero artístico enquanto arma política e de crítica social, além das reações dos detentores do poder para evitar os ataques vindos desse tipo de expressão. Um exemplo pode ser encontrado na vida de Honoré Daumier que, por causa de suas charges, foi internado na Casa de Saúde Doutor Pinel, na França, depois que suas críticas desagradaram o rei Luís Felipe, na primeira metade do século XIX.
  • O último grupo pode se responsabilizar pela análise estética dos desenhos, escolhendo duas charges ou caricaturas de épocas distintas, centrando em três aspectos de análise: tipos de pessoas (figuras sociais), vestimentas (classes sociais) e situações (cenários). Outro ponto também a ser analisado diz respeito às técnicas de produção utilizadas, como o litogravura nos primeiros momentos e a utilização de instrumentos computacionais nos dias de hoje.

* Créditos da imagem: rook76 e Shutterstock.com


Por Tales Pinto
Graduado em História